agosto 24, 2004

The Lurker e a Lutécia ou
(Aos vivos devemos respeito, aos mortos apenas a verdade - Voltaire).

Os amantes da cidade luz tem um motivo de alegria, hoje e amanhã, quando se comemora o 60º aniversário da libertação de Paris.

Em 18 de agosto de 1944 a resistência, dominada pelo partido comunista, clama pela insurreição geral. Após uma semana de combates, com 1750 mortos, o General Diétrich von Choltitz se rende, ignorando telegrama do Fhürer para que "não permitisse que a cidade fosse tomada pelo inimigo" deixando tão somente "um campo em ruínas". A ordem nunca foi dada, não obstante as pontes e diversos edifícios terem sido minados pelas tropas alemãs. Como se vê, a cidade é capaz de vencer até mesmo os nazistas pelo seu simples existir.

Contrariamente ao que gostam de vituperar os americanos quando querem insultar os franceses, não foram eles, mas sim os espanhóis os primeiros na capital francesa, vencendo as barricadas alemães e chagando à prefeitura (Hôtel de Ville) na noite do dia 24. Esta chegada possui grande simbolismo pois resgata a honra do exército francês e dos heróis da França livre, pois a 2ª Divisão Blindada é comandada pelo General Leclerc.

Sessenta anos depois foi decerrada uma placa comemorativa, alusiva a data, pelo prefeito da cidade Bertrand Delanoë, em presença de oficiais espanhóis. Diz a placa : "Aux républicains espagnols, composante principale de la colonne Dronne." A homenagem, instalada no boulevard Henri-IV, gera uma certa contradição por si só. Explica-se : Henrique IV de Bourbon cunhou no ano de 1593, em Lisieux, a frase "Paris vale bem uma missa" (Paris vaut bien une messe). Conquanto tenha razão o monarca, sua motivação talvez não fosse das mais legítimas. Devota a interesses políticos, deixava claros seus motivos para converter-se do protestantismo ao catolicismo - a coroa, não o povo.

Grande parte dos heróis deste episódio dormem esquecidos nas areias do tempo, em especial os civis e partisans que fustigaram os contingentes alemães dentro da cidade, realizando barricadas até tomar conhecimento da retomada da cidade. Sobre isto, vale conhecer o sítio elaborado pela Mairie de Paris, que apresenta diversas fotos históricas da ocasião.

A libertação de Paris é uma história paradoxal, pois é produto de uma conjunção de desejos muito diferentes. Enquanto os comunistas lutavam por uma insurreição e os chefes da Resistência estavam divididos demais para se unirem sob o fogo, é de Gaulle que colhe os louros. E é um exército que apóia uma revolta. E os Parisienses? Sabe-se demasiado pouco sobre eles mas a liberdade foi comprada, mais que nunca, ao preço do seu sangue. Ou como diria de Gaulle: "La France rentre à Paris, chez elle! Elle y rentre sanglante, mais bien résolue."

The Lurker Says : Ici, nous, vois-tu, nous on marche et nous on tue, nous on crève... (Chant des partisans - Yves Montand)

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